quinta-feira, 19 de maio de 2011

Tanto para Ler


El Ateneo, uma famosa livraria de Buenos Aires

Vizinha que faz sombra



Por Eugênia Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral




Buenos Aires sozinha tem mais livrarias que o Brasil. Mito ou lenda, esta é uma história que todos já ouvimos sobre a Argentina. Realmente, vi muitas livrarias na cidade, mas não tenho aqui nenhum estudo científico. O que tenho são dois fatos para nos matar de inveja dos hermanos vizinhos. O primeiro foi que a escritora espanhola Rosa Montero saiu de Madrid para ir lançar seu livro “Lagrimas em La Lluvia” também em Buenos Aires (quase ao mesmo tempo em que fez o lançamento na Espanha) e não passou por aqui. Nem para pegar solzinho. 
O segundo fato, motivo de orgulho para qualquer argentino, é que Buenos Aires foi eleita a “World Books Capital City 2011” (Capital Mundial de Livros de 2011) pela UNESCO. Esta mesma organização elege as “Cidades da Literatura” citadas em outro post. Pois Buenos Aires está séria candidata ao título perene, mas por enquanto, comemora a vitória de 2011.  
Para marcar o início das atividades que ocorrerão durante todo o ano, foi construída uma Torre de Babel de Livros na capital. Mais de 30 mil exemplares de livros, emprestados por moradores e entidades durante dois meses, formaram uma torre de 28 metros de altura. A obra é da artista Marta Minujín e está instalada na Praça San Martín. Nela, há obras de 54 países, sendo 200 brasileiras (hã, olha nós aí!).
As visitações podem ser feitas por grupos e, ao fim do passeio, o visitante ganha um exemplar de “A Biblioteca de Babel”, de Jorge Luis Borges. Apropriado, não é? A próxima capital mundial de Livros será Yerevan (na Armênia). Bogotá, na Colômbia, já foi escolhida em 2007. E no nosso imenso país, ainda nenhuma. Mas a gente chega lá.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Tanto para Ler

Pra terminar de começar


Por Eugênia Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral


Continuando nosso assunto de começos, vou comentar os cinco colocados na semana passada e trazer o resultado da pesquisa em vários outros blogs sobre o tema.

“Memórias Póstumas de Brás Cubas” apareceu nas três listas de “Melhores começos de livros” que encontrei na Internet. Machado de Assis já dá o tom da história na abertura: “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.”
Só Gabriel García Marquéz conseguiria colocar uma abertura dessas num livro e trazer uma história cheia de amor em “Memórias de Minhas Putas Tristes”: “No ano dos meu noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem.”

Eu amo este livro por vários motivos, “Memorial de Maria Moura”, de Rachel de Queiróz, tem um começo cheio de suspense não só nesta frase como em toda a abertura: “Ouvindo o tiro, eu me apeei do cavalo. Então, tinha chegado o lugar”.

“A gente vinha de mãos dadas, sem pressa de nada pela rua. Totoca vinha me ensinando a vida. E eu estava muito contente porque meu irmão mais velho estava me dando a mão e ensinando as coisas.” O Totoca entregou? Meu livro preferido da infância, “Meu Pé de Laranja Lima, do José Mauro Vasconcelos, é assim pura ternura de infância. Os momentos de sensibilidade que o menino passa, e as injustiças, vão marcando a história. Eu lembro de terminar o livro e me jogar no sofá chorando (ridículo, né? Mas pelo menos eu tinha só doze anos...).

“O homem que acabou de entrar na loja para alugar uma cassete vídeo tem no seu bilhete de identidade um nome nada comum, de um sabor clássico que o tempo veio a tornar rançoso, nada menos que Tertuliano Máximo Afonso.” Com esse nome, Tertuliano surpreende o leitor na inimaginável situação de se descobrir “O Homem Duplicado” por José Saramago.



Ganharam destaques pelos blogs de literatura outros começos clássicos. “A Metamorfose”, de Franz Kafka, é presença imbatível. Nada como iniciar uma história informando que seu protagonista acordou transformado num inseto. Fantástico. E o citado no texto anterior “Cem Anos de Solidão”, com o pelotão atirando.

Em uma eleição no blog de Sérgio Rodrigues, o melhor começo escolhido foi o de “Ana Karenina”, de Leon Tolstoi. Este é um autor de histórias tristes. Os contos são daqueles que deixam vontade de entrar na história e abraçar os personagens. E Ana Karenina é um dos personagens que mais me causaram tristeza. Tristeza desde a primeira aparição: “Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira”.


Para terminar essa conversa de começo, menção honrosa para o todo bom, mas inesperado começo e fim de “Uma aprendizagem ou O Livro dos Prazeres” de Clarice Lispector. Ele começa no meio: “estando tão ocupada, viera das compras de casa que a empregada fizera às pressas porque cada vez mais matava o serviço, embora só viesse para deixar almoço e jantar prontos(...)”. (Cuidado aqui vai um fim de livro, se não quiser saber, pule). E termina sem fim: “- Eu penso, interrompeu o homem e sua voz estava lenta e abafada porque ele estava sofrendo de vida e de amor, eu penso o seguinte:”. Livros sem fim sempre me lembram uma amiga que passou um mês lendo “O Castelo” e depois, no fim para ser exata, descobriu que era o livro inacabado do Kafka. Mas términos ficam para outra hora.



quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tanto para Ler

Pra começar...


Por Eugênia Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral


Nesta semana, eu vi uma matéria que dizia que o início de “Um Conto de Duas Cidades” (1837), de Charles Dickens, tinha uma das aberturas mais famosas da literatura: “Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos, era a época da sabedoria, era a época da loucura.” O que me fez lembrar outro começo muito famoso que é constantemente citado em outras obras: “Me chamo Ishmael”, do “Moby Dick”, do Herman Melville.
O que me fez ainda pensar, sobre começos de livros. Em minha parca experiência escrevendo academicamente, tenho como momento mais desesperador é começar o capítulo. Às vezes, passo muito tempo olhando para o computador sem ter ideia. Em uma palestra, vi José Saramago comentar sobre a “obsessão do branco da página do Word”. Ele disse que ela quer ficar branca.
Então fui rever os meus livros preferidos e como começaram alguns. “Nas Tuas Mãos” da Inês Pedrosa, parece um melodrama. Uma história de você virou para mim entre risos e bocas e me beijou... “Cem anos de solidão” (Gabriel García Marquéz) e Benjamim (Chico Buarque) começam com a mesma situação, mas tons muito diversos: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou a conhecer gelo” e “O pelotão estava em forma, a voz de comando foi energética e a fuzilaria produziu um único estrondo”.
Eu gosto muito de começos que lhe dão uma ideia oposta da história. O primeiro livro de Harry Potter inicia afirmando que os tios de Harry se orgulhavam de serem pessoas muito, muito normais. “Notícias de um sequestro” abre com uma mulher se certificando que está segura ao entrar no carro. E tudo muda no segundo parágrafo.
Trago aqui cinco começos que eu encontrei e gostei muito numa olhada rápida nos meus livros. Será que está fácil dizer de que livros são?
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.”
“No ano dos meu noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem.”
“Ouvindo o tiro, eu me apeei do cavalo. Então, tinha chegado o lugar.”
“A gente vinha de mãos dadas, sem pressa de nada pela rua. Totoca vinha me ensinando a vida. E eu estava muito contente porque meu irmão mais velho estava me dando a mão e ensinando as coisas.”
“O homem que acabou de entrar na loja para alugar uma cassete vídeo tem no seu bilhete de identidade um nome nada comum, de um sabor clássico que o tempo veio a tornar rançoso, nada menos que Tertuliano Máximo Afonso.”