terça-feira, 10 de maio de 2011

Tanto para Ler

Pra terminar de começar


Por Eugênia Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral


Continuando nosso assunto de começos, vou comentar os cinco colocados na semana passada e trazer o resultado da pesquisa em vários outros blogs sobre o tema.

“Memórias Póstumas de Brás Cubas” apareceu nas três listas de “Melhores começos de livros” que encontrei na Internet. Machado de Assis já dá o tom da história na abertura: “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.”
Só Gabriel García Marquéz conseguiria colocar uma abertura dessas num livro e trazer uma história cheia de amor em “Memórias de Minhas Putas Tristes”: “No ano dos meu noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem.”

Eu amo este livro por vários motivos, “Memorial de Maria Moura”, de Rachel de Queiróz, tem um começo cheio de suspense não só nesta frase como em toda a abertura: “Ouvindo o tiro, eu me apeei do cavalo. Então, tinha chegado o lugar”.

“A gente vinha de mãos dadas, sem pressa de nada pela rua. Totoca vinha me ensinando a vida. E eu estava muito contente porque meu irmão mais velho estava me dando a mão e ensinando as coisas.” O Totoca entregou? Meu livro preferido da infância, “Meu Pé de Laranja Lima, do José Mauro Vasconcelos, é assim pura ternura de infância. Os momentos de sensibilidade que o menino passa, e as injustiças, vão marcando a história. Eu lembro de terminar o livro e me jogar no sofá chorando (ridículo, né? Mas pelo menos eu tinha só doze anos...).

“O homem que acabou de entrar na loja para alugar uma cassete vídeo tem no seu bilhete de identidade um nome nada comum, de um sabor clássico que o tempo veio a tornar rançoso, nada menos que Tertuliano Máximo Afonso.” Com esse nome, Tertuliano surpreende o leitor na inimaginável situação de se descobrir “O Homem Duplicado” por José Saramago.



Ganharam destaques pelos blogs de literatura outros começos clássicos. “A Metamorfose”, de Franz Kafka, é presença imbatível. Nada como iniciar uma história informando que seu protagonista acordou transformado num inseto. Fantástico. E o citado no texto anterior “Cem Anos de Solidão”, com o pelotão atirando.

Em uma eleição no blog de Sérgio Rodrigues, o melhor começo escolhido foi o de “Ana Karenina”, de Leon Tolstoi. Este é um autor de histórias tristes. Os contos são daqueles que deixam vontade de entrar na história e abraçar os personagens. E Ana Karenina é um dos personagens que mais me causaram tristeza. Tristeza desde a primeira aparição: “Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira”.


Para terminar essa conversa de começo, menção honrosa para o todo bom, mas inesperado começo e fim de “Uma aprendizagem ou O Livro dos Prazeres” de Clarice Lispector. Ele começa no meio: “estando tão ocupada, viera das compras de casa que a empregada fizera às pressas porque cada vez mais matava o serviço, embora só viesse para deixar almoço e jantar prontos(...)”. (Cuidado aqui vai um fim de livro, se não quiser saber, pule). E termina sem fim: “- Eu penso, interrompeu o homem e sua voz estava lenta e abafada porque ele estava sofrendo de vida e de amor, eu penso o seguinte:”. Livros sem fim sempre me lembram uma amiga que passou um mês lendo “O Castelo” e depois, no fim para ser exata, descobriu que era o livro inacabado do Kafka. Mas términos ficam para outra hora.



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