Lendo na prisão
Por Eugênia Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral
Há pouco tempo (e depois de um tempo infindável de vergonha), Pimenta Neves finalmente foi preso pelo homicídio cometido em 2000 no qual assassinou a ex-namorada Sandra Gomide. O absurdo do caso não será nem comentado aqui. O que vai aparecer aqui foi o pedido dele ao delegado para levar alguns livros para a prisão. eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
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Segundo a imprensa, as obras foram "Vigiar e Punir", de Michel Foucault (ele deve estar em busca de citações para o próximo recurso), "O Deus Selvagem – Um Estudo do Suicídio", de A. Alvarez (esse deve ter sido para causar efeito), "Sermões", de padre Antônio Vieira (um livro difícil com longos textos e linguagem rebuscada, mas acho que ele tem tempo para se dedicar) e um livro de Shakespeare cujo nome não foi divulgado (eu acharia irônico se fosse “Otelo”).
Para passar o resto da vida em um cubículo, realmente só a companhia de muitos livros. E talvez de papel e caneta também. O italiano Antonio Gramsci escreveu na prisão muito da sua obra. Rosa Luxemburgo também tem um diário muito emocionante sobre o cárcere. Mas no tópico leitura, qual seria o melhor tema para acompanhar um preso?Algo fantasioso que lhe levasse para longe?Tipo “Senhor dos Anéis”, do Tolkien. Ou histórias que se passam justamente dentro da cadeia? “Memórias do Subsolo” de Dostoievski é um bem pesado.
Ou talvez algo que lhe lembrasse a infância? Ou, como o assassino citado, seria melhor levar aqueles calhamaços que você na verdade não teve paciência em outra época para enfrentar?Alguns, os que pensam em sair um dia da penitenciária, preferem as leituras inspiradoras.
Na novela Insensato Coração, uma personagem passou o tempo de prisão se preparando para uma vingança e lendo Sidney Sheldon: “O Outro Lado da Meia-Noite” e “A ira dos anjos”. Me pergunto se ela notou que as mulheres que planejam as vinganças acabam sempre perdoando o homem que na verdade amavam e se dando mal. Mas eu entendo a escolha, ela estava se inspirando para a liberdade.
Em matéria de inspiração, no entanto, Nelson Mandela não deixou para ninguém. Ele tornou o poema do britânico Wlliam Ernest Henley, "Invictuous", internacionalmente famoso por dizer que era leitura constante na sua época de prisão. Os versos dizem “Nunca me lamentei - e ainda trago/ Minha cabeça - embora em sangue – ereta”. E o final é inspiração para qualquer pessoa dentro e fora das grades, mas colocado dentro da vida do homem que saiu da prisão para a presidência do país, é emocionante:
“Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou o senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.”
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou o senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.”
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