quarta-feira, 20 de julho de 2011

Tanto para Ler

Ler sobre heróis


Por Eugênia
Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral



Toda sociedade tem a necessidade de ter figuras míticas que se sobressaiam do resto da humanidade e possam servir de inspiração para cada um superar seus limites. Nós temos na atual sociedade mais figuras fabricadas, celebrizadas e olimpianas que heróis de verdade. Mas temos Nelson Mandela, um verdadeiro herói vivo entre nós. Esta é a premissa do livro “Os Caminhos de Mandela”, do jornalista Richard Stengel. Richard conviveu intimamente com Mandela por cerca de quatro anos para ajudá-lo a escrever sua autobiografia. No fim, além de produzir o documentário “Mandela” (indicado ao Oscar de 1996), também escreveu este livro, no qual coloca as lições de vida que tirou da convivência e da história do líder sul-africano como sua capacidade de mudar de curso se estiver errado, aparentar coragem quando todos os outros têm medo e enxergar verdade e correção nos dois lados de uma discussão.

Lições de vida transbordam da história do homem que saiu da prisão aos 71 anos de idade para provocar a mudança de regime de um país sem cair em guerra civil nem perder relações internacionais. Outra fonte para quem quer conhecer a figura é a autobiografia em si. “Conversas que tive comigo” é o resultado de horas de entrevista com Stengel, reflexões do próprio Mandela e trechos dos diários que ele manteve durante anos.  Os dois livros têm edições brasileiras, o primeiro pela Editora Globo, e o segundo pela Rocco.

Outra figura mítica, heroica e extremamente real da nossa contemporaneidade é Madre Teresa de Calcutá. Agnes GonxhaBojaxhiu nasceu na Macedônia em 1910 e quando faleceu, aos 87 anos, liderava uma missão de caridade que já agia em todo o planeta. Pense bem, essa mulher, sozinha, criou um movimento de ajuda ao próximo que repercutiu em todos os continentes.

Com a publicação de “Madre Teresa venha, seja minha luz”, de Brian Kolodiejchuk, descobrimos que ela era uma mulher (ainda mais real) que lutou com sua fé e teve inúmeras dúvidas sobre a existência de Deus. O livro tem cartas da Madre para seus conselheiros espirituais e alguns escritos dela que revelam quechegou a duvidar se existia alma e até mesmo Jesus. Mesmo assim, neste período de descrença, Teresa de Calcutá não deixou seu trabalho de caridade esmorecer nem por um dia. E depois de algum tempo, declarou em suas cartas ter encontrado Jesus na escuridão que era parte Dele, dela e de todo o mundo. Eu não consigo nem imaginar o tanto de escuridão que ela testemunhou em sua vida.

 O Vaticano já declarou que essas cartas não mudam em nada o processo de canonização da Madre, pois nada mais humano que duvidar de Deus, como muitos outros santos fizeram em algum momento.  O livro é um alento não só para os cristãos, em suas páginas a mulher comum se revela angustiada com a realidade que a envolve e desesperada por provocar mudança. Madre Teresa e Mandela são humanos comuns, que não possuem nada de especial e mesmo assim se sobressaem do resto da humanidade. Suas histórias são inspiração para cada um superar seus limites. São como as histórias de Homero e os semideuses na batalha de Tróia, ou dos 300 de Esparta morrendo pela Grécia. São históriasde heróis.


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Tanto para Ler

Harry Potter e os clássicos





Por Eugênia Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral



Na semana da estreia do último filme a retratar a série de livros da escritora inglesa JK Rowlling, vamos rememorar a historinha dos bruxos mais pops da atualidade. Harry Potter era um menino comum, que morava num cubículo embaixo da escada da casa dos tios, que o detestavam. Não ia para escola, não tinha amigos, brinquedos e passava fome. De repente, no aniversário de 11 anos, recebe uma carta afirmando que ele na verdade é um bruxo e tem vaga garantida na escola para bruxos Hogwarts. Quando chega lá, o menino descobre que é muito famoso pois um bruxo muito ruim chamado Lorde Voldemort matou os pais de Harry e tentou matá-lo, mas por motivos inexplicáveis não conseguiu e quase foi destruído deixando uma cicatriz em forma de raio na testa do rapaz.
Bom, esta foi a premissa da história que chegou ao Brasil em 2001 com “Harry Potter e a Pedra Filosofal”. Neste e nos seis livros seguintes, Harry e os amigos Rony e Hermione enfrentam todo tipo de bicho e feitiço do mal para tentar destruir de uma vez por todas Voldemort. Transformado em fenômeno pop atual através de uma extensa e intensa campanha de marketing e pelos filmes produzidos, os livros da série HP são recorde mundial de leitura.
De acordo com a tese “A Literatura Infantil no Contexto Cultural da Pós-Modernidade: o caso Harry Potter”, de Patrícia Pitta no Doutorado em Letras na PUC/RS (e não é a única que você encontra na Internet sobre ele), os livros já foram traduzidos em mais de 60 idiomas, incluindo grego clássico, latim e gaélico, em mais de 200 países. Em março de 2006, bateu a marca de 300 milhões de exemplares comercializados.
E tanta conversa sobre marketing corre o risco de enevoar o que considero o mais importante da série: 300 milhões de exemplares vendidos. Num mundo de Wii, Xbox, IPad, IPhone e todos os estímulos eletrônicos, esse número é um passe de mágica. Eu costumo contar sempre a história da minha prima com o Harry (íntimos). Eu fui ler o livro para ela, fazendo vozes dos personagens para empolgá-la porque eram quase duzentas páginas sem nenhuma figura e ela tinha 10 anos. Não só o rapaz conquistou a menina, como no segundo livro ela já lia para mim alguns capítulos e do terceiro em diante, lia antes de mim.
A popularidade dele ganhou até a benção do Papa. Ao comentar o sexto filme da série, “Harry Potter e o Príncipe Mendigo” o Vaticano elogiou a forma como o bem e o mal estão claramente distintos na obra, o modo como o protagonista escolhe lutar pelo bem e por seus amigos e o tratamento “responsável” dado à questão do romance.
Enfim, logo os filmes ficarão ultrapassados em tecnologia, os atores superados por novos ícones juvenis e a moda Potter vai ser substituída por outra tendência. Os livros da série, no entanto, merecem continuar nas estantes das próximas gerações ensinando mais crianças a devorar suas páginas para descobrir se nosso herói vai conseguir sobreviver à luta contra o mal. Essa história, como todos os clássicos, não envelhece. E eu creio que nós vimos nascer na nossa geração um clássico da literatura infanto-juvenil. Daqui a cinquenta anos, a gente volta a falar sobre isso.