Ler sobre heróis
Por Eugênia
Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral
Toda sociedade tem a necessidade de ter figuras míticas que se sobressaiam do resto da humanidade e possam servir de inspiração para cada um superar seus limites. Nós temos na atual sociedade mais figuras fabricadas, celebrizadas e olimpianas que heróis de verdade. Mas temos Nelson Mandela, um verdadeiro herói vivo entre nós. Esta é a premissa do livro “Os Caminhos de Mandela”, do jornalista Richard Stengel. Richard conviveu intimamente com Mandela por cerca de quatro anos para ajudá-lo a escrever sua autobiografia. No fim, além de produzir o documentário “Mandela” (indicado ao Oscar de 1996), também escreveu este livro, no qual coloca as lições de vida que tirou da convivência e da história do líder sul-africano como sua capacidade de mudar de curso se estiver errado, aparentar coragem quando todos os outros têm medo e enxergar verdade e correção nos dois lados de uma discussão.
Lições de vida transbordam da história do homem que saiu da prisão aos 71 anos de idade para provocar a mudança de regime de um país sem cair em guerra civil nem perder relações internacionais. Outra fonte para quem quer conhecer a figura é a autobiografia em si. “Conversas que tive comigo” é o resultado de horas de entrevista com Stengel, reflexões do próprio Mandela e trechos dos diários que ele manteve durante anos. Os dois livros têm edições brasileiras, o primeiro pela Editora Globo, e o segundo pela Rocco.
Outra figura mítica, heroica e extremamente real da nossa contemporaneidade é Madre Teresa de Calcutá. Agnes GonxhaBojaxhiu nasceu na Macedônia em 1910 e quando faleceu, aos 87 anos, liderava uma missão de caridade que já agia em todo o planeta. Pense bem, essa mulher, sozinha, criou um movimento de ajuda ao próximo que repercutiu em todos os continentes.
Com a publicação de “Madre Teresa venha, seja minha luz”, de Brian Kolodiejchuk, descobrimos que ela era uma mulher (ainda mais real) que lutou com sua fé e teve inúmeras dúvidas sobre a existência de Deus. O livro tem cartas da Madre para seus conselheiros espirituais e alguns escritos dela que revelam quechegou a duvidar se existia alma e até mesmo Jesus. Mesmo assim, neste período de descrença, Teresa de Calcutá não deixou seu trabalho de caridade esmorecer nem por um dia. E depois de algum tempo, declarou em suas cartas ter encontrado Jesus na escuridão que era parte Dele, dela e de todo o mundo. Eu não consigo nem imaginar o tanto de escuridão que ela testemunhou em sua vida.
O Vaticano já declarou que essas cartas não mudam em nada o processo de canonização da Madre, pois nada mais humano que duvidar de Deus, como muitos outros santos fizeram em algum momento. O livro é um alento não só para os cristãos, em suas páginas a mulher comum se revela angustiada com a realidade que a envolve e desesperada por provocar mudança. Madre Teresa e Mandela são humanos comuns, que não possuem nada de especial e mesmo assim se sobressaem do resto da humanidade. Suas histórias são inspiração para cada um superar seus limites. São como as histórias de Homero e os semideuses na batalha de Tróia, ou dos 300 de Esparta morrendo pela Grécia. São históriasde heróis.