Eugênia Cabral
@eugeniamcabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
Poesia é uma área da literatura muito interessante. Por um lado tem uma aura de intelectualidade. "Poesia é só para gente muito culta porque é complicada de entender!" Por outro, há um sentimento generalizado que ninguém lê. "Poesia é um negócio chato porque é leeento!" Fui avisada pela internet que no dia 04 de outubro é comemorado o Dia do Poeta. Esse fingidor que hoje em dia anda raro de ser visto por aí.
Nas conversas, a impressão que tenho é que as mesmas poesias estão sempre sendo lidas. E constantemente, são os mesmos poetas. Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles... Nos últimos anos, Caio Fernando Abreu como que saltou aos olhos das pessoas e vem sendo recitado em muitas contas de Facebook e Twitter. Ainda sou do fã-clube do Manuel Bandeira: “A alma que estraga o amor”... Todos incontestáveis. Mas não se fez mais nada depois?
Atualmente, as redes sociais provocaram a volta das poesias de agenda. Lembram daquelas agendas de adolescência, nas quais são copiadas frases bonitas? Hoje, as letras de músicas copiadas são vídeos do Youtube postados no Facebook. Em vez de copiar, vocês retuita contas especializadas em colocar frases e trechos de poemas como a do @pensador.
Enquanto eu escrevia este texto, ele mostrava: “Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência” --Fernando Pessoa (outro campeão de citações).
Quantos aos nossos autores contemporâneos... Bom, eu não tenho certeza se vou saber citar quem são os poetas atuais mais conhecidos nacionalmente. Melhor nem arriscar. Conheço uns cearenses que equilibram as carreiras profissionais com a luta de escrever e conseguem, com muita dedicação, publicar os registros do seu trabalho.
O processo de reconhecimento instantâneo que criou as “celebridades da internet” ainda não me apresentou nenhum “poeta da internet”. Como me considero usuária mediana de redes sociais, acho que teria me alcançado se algum surgisse. Até conheço alguns desses autores guerreiros que publicam algo de sua produção. Mas nada que o torne “célebre e online”.
As redes sociais sociabilizaram alguns autores e frases, mas ainda não recuperaram a poesia para nosso cotidiano. Pena. Enquanto isso, vou aqui lentamente passando por um livro de poesia em homenagem aos Dias dos Poetas. Lentamente, por escolha e prazer próprio, diga-se de passagem. Não sou do tipo que lê poesia como romance não. Mas gosto e queria muito conhecer mais. Meus sentimentos sobre a área são exatamente os de Paulo Leminski (outro que vale a pena) em “Poetas Velhos”:
Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.