Em 2011, a Secultfor lança um conjunto de dez editais das artes. Pela primeira vez, também serão abertas inscrições para o Edital de Comunicação Popular e Alternativa
A Prefeitura Municipal de Fortaleza, através da Secultfor, finaliza o ano de 2011 com uma ação simbólica de afirmação da cultura através do lançamento dos Editais das Artes, no próximo dia 16, a partir de 18h, no Passeio Público. Base de sustentação da política cultural em curso, o conjunto de dez editais, voltado a diferentes linguagens artísticas, se consolida como instrumento eficaz e democrático de aplicação direta de recursos públicos na área.
Cada edital é fruto de discussões sistemáticas e continuadas com os segmentos artísticos, seja através de indivíduos e coletivos ou entidades representativas legalmente constituídas. Assim, os conteúdos e decisões são pactuados, respeitando demandas e interesses dos artistas e as potencialidades e limitações do poder público municipal. Portanto, desde 2006, início da atual gestão municipal, os editais não só incentivam o fomento à cadeia produtiva da cultura como representam a porta de entrada direta e sempre aberta para o exercício coletivo da cidadania cultural.
Neste ano, serão investidos R$ 2.920.000,00 contemplando as seguintes linguagens artísticas: Artes Visuais, Audiovisual, Arte e Cultura Digital, Culturas Tradicionais Populares, Circo, Dança, Fotografia, Literatura, Música e Teatro. Os recursos serão distribuídos da seguinte forma: Artes Visuais, Fotografia e Audiovisual recebem cada um R$ 300 mil; Arte e Cultura Digital e Circo, R$ 200 mil; Dança e Teatro, R$ 330 mil; Literatura, R$ 250 mil; Música, R$ 350 mil; e Culturas Tradicionais Populares, R$ 360 mil.
Os Editais das Artes irão selecionar um número mínimo de projetos nas 10 diferentes linguagens artísticas. Em Artes Visuais, serão 12; em Arte e Cultura Digital, Dança e Fotografia, um mínimo de 10, cada; em Literatura, mínimo de 22; em Música, 27; em Circo, mínimo de 14; em Culturas Tradicionais Populares, até 32; em Teatro, 9; e em Audiovisual, mínimo de 21. Uma boa notícia para os proponentes: todas as parcelas serão pagas em uma única vez.
Além dos Editais das Artes, será lançado o Edital de Comunicação Popular e Alternativa. Esse é o primeiro edital de comunicação lançado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, um compromisso de campanha reafirmado nas Conferências Municipais de Comunicação. "O único viabilizado com recursos próprios do Município no Brasil", segundo Joana Dutra, da Coordenação de Comunicação Popular e Alternativa da PMF. No total, R$ 160 mil serão aplicados em iniciativas de comunicação popular, alternativa, comunitária e participativa.
As inscrições para todos os editais seguem de 15 de dezembro de 2011 a 15 de fevereiro 2012. Somente as inscrições para o edital de Culturas Tradicionais Populares seguem até o dia 9 de março de 2012.
Os Editais das Artes estão consolidados como instrumentos eficazes de democratização dos recursos públicos aplicados em cultura. “Os editais são uma das mais importantes marcas da gestão da Prefeita Luizianne Lins na área cultural. Nessa gestão foi estabelecida, pela primeira vez em Fortaleza, uma política de transparência e igualdade de oportunidades de acesso aos recursos da cultura, através dos editais”, afirma a secretária de Cultura de Fortaleza, Fátima Mesquita.
De acordo com ela, os editais são resultado de uma ampla discussão entre o poder público municipal e artistas de diversos segmentos e produtores culturais. “Outra marca dessa gestão é o diálogo com a sociedade e essa diretriz norteia também a concepção dos Editais das Artes, que são indispensáveis ao fomento e à circulação da produção cultural em Fortaleza”, explica.
Por meio de concursos públicos, projetos artísticos concorrem entre si, sendo avaliados por comissões de seleção especializadas. Pessoas físicas residentes em Fortaleza e jurídicas sediadas na capital estão aptas a concorrer aos editais, levando em conta os critérios estabelecidos em cada um deles. O investimento da Prefeitura de Fortaleza prevê contrapartidas capazes de garantir ao maior número de pessoas acesso aos eventos e produtos culturais gerados a partir dos editais. É imperativo, portanto, que todos os eventos financiados pelo erário municipal aconteçam em espaços públicos e sejam gratuitos.
SERVIÇOLançamento dos Editais das Artes e Edital de Comunicação Popular e Alternativa, no dia 16 (sexta-feira), às 18h, no Passeio Público (rua Dr. João Moreira, s/n – ao lado da Santa Casa de Misericórdia).
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Tanto para ler - Entre Katrina e Columbine
Eugênia Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral
O prêmio de literatura nacional dos Estados Unidos, National Book Awards 2011, foi conquistado pela autora Jesmyn Ward com a ficção “Salvage The Bones”. A história retrata uma comunidade norte-americana atingida pela passagem do furacão Katrina, no Mississipi, e recebeu excelentes críticas desde seu lançamento. No discurso de agradecimento, Jesmyn disse que foi inspirada a seguir seu sonho de se tornar escritora depois da morte de seu irmão, que foi atingido por um motorista bêbado no ano em que ela se formou na faculdade.
Para a escritora, “livros são um testemunho de força ante um mundo punitivo”. E assim, os acontecimentos do furacão e o que os sobreviventes enfrentaram em seguida (roubos, assassinatos e estupros dentro dos locais de refugiados) culminaram no que foi considerado o romance mais importante do ano naquele país.
Esse é um testemunho que muitas vezes aparece no discurso de pessoas relacionadas com a arte. Ela é nosso estandarte contra a perenidade da vida. Achei interessante, no entanto, pensar no sentimento de perda e vazio que gera a arte. Se Sócrates não tivesse sido condenado à morte, nós teríamos a “Alegoria da Caverna”? Talvez sim, mas talvez o texto não estivesse tão apaixonantemente escrito se Platão não tivesse vivido a dor de perder seu mestre.
Os assassinatos brutais de crianças em uma escola norte-americana em Columbine provocou a autora Lionel Shriver a mergulhar na sociedade que cria assassinos mirins. Assim como Michael Moore fez no documentário “Tiros em Columbine”, ela traz uma abordagem diferente do acontecimento que não tem nada de “videogames provocam violência” ou “culpe a televisão”.
A mãe de Kevin Khatchadourian, o assassino, escreve cartas para o pai ausente do menino e nelas discute a criação do filho, o relacionamento entre eles e suas próprias escolhas de vida dentro de uma sociedade dominada pelo senso de absurdo. O livro é controverso e discute se a própria decisão da maternidade tem muito a ver com nossas atuais crianças. A história, que não é real, tem elementos de vários desses crimes que, infelizmente, tornaram-se recorrentes nos Estados Unidos.
Não uma face bonita da nossa humanidade para ser eternizada, mas uma provocação em resposta ao que vivemos. Seria mais agradável viver num mundo só com o lado da Comédia. Mas se vamos ter que enfrentar a Tragédia, que ela dê frutos de reflexão, pelo menos. Enquanto isso, já estou aguardando a tradução do livro da Jesmyn Ward aqui no Brasil.
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral
O prêmio de literatura nacional dos Estados Unidos, National Book Awards 2011, foi conquistado pela autora Jesmyn Ward com a ficção “Salvage The Bones”. A história retrata uma comunidade norte-americana atingida pela passagem do furacão Katrina, no Mississipi, e recebeu excelentes críticas desde seu lançamento. No discurso de agradecimento, Jesmyn disse que foi inspirada a seguir seu sonho de se tornar escritora depois da morte de seu irmão, que foi atingido por um motorista bêbado no ano em que ela se formou na faculdade.
Para a escritora, “livros são um testemunho de força ante um mundo punitivo”. E assim, os acontecimentos do furacão e o que os sobreviventes enfrentaram em seguida (roubos, assassinatos e estupros dentro dos locais de refugiados) culminaram no que foi considerado o romance mais importante do ano naquele país.
Esse é um testemunho que muitas vezes aparece no discurso de pessoas relacionadas com a arte. Ela é nosso estandarte contra a perenidade da vida. Achei interessante, no entanto, pensar no sentimento de perda e vazio que gera a arte. Se Sócrates não tivesse sido condenado à morte, nós teríamos a “Alegoria da Caverna”? Talvez sim, mas talvez o texto não estivesse tão apaixonantemente escrito se Platão não tivesse vivido a dor de perder seu mestre.
Os assassinatos brutais de crianças em uma escola norte-americana em Columbine provocou a autora Lionel Shriver a mergulhar na sociedade que cria assassinos mirins. Assim como Michael Moore fez no documentário “Tiros em Columbine”, ela traz uma abordagem diferente do acontecimento que não tem nada de “videogames provocam violência” ou “culpe a televisão”.
A mãe de Kevin Khatchadourian, o assassino, escreve cartas para o pai ausente do menino e nelas discute a criação do filho, o relacionamento entre eles e suas próprias escolhas de vida dentro de uma sociedade dominada pelo senso de absurdo. O livro é controverso e discute se a própria decisão da maternidade tem muito a ver com nossas atuais crianças. A história, que não é real, tem elementos de vários desses crimes que, infelizmente, tornaram-se recorrentes nos Estados Unidos.
Não uma face bonita da nossa humanidade para ser eternizada, mas uma provocação em resposta ao que vivemos. Seria mais agradável viver num mundo só com o lado da Comédia. Mas se vamos ter que enfrentar a Tragédia, que ela dê frutos de reflexão, pelo menos. Enquanto isso, já estou aguardando a tradução do livro da Jesmyn Ward aqui no Brasil.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Tanto para ler: As leis e os livros
Eugênia Cabral
@eugenimcabral
A gente costuma dizer que não se legisla a favor da cultura no Brasil. Verdade apenas em parte. Tem projetos interessantes. Só que não sabemos, não cobramos, não acompanhamos. De um ano para cá, por conta de um novo trabalho, se abriu diante dos meus olhos o mundo legislativo brasileiro. Confesso que não tinha a menor ideia do que se passava em nenhuma esfera de poder além do que era publicado nos jornais. Descobri que todos os dias vários projetos, muitos que me interessam pessoalmente, são colocados em pauta. E se eu ficar dependendo só da pauta da imprensa, demorarei a conhecê-los.
Agora em outubro, o deputado federal Izalci Ferreira (PR-DF) fez uma indicação (INC 1802/2011) ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome para a inclusão de livros nas cestas de alimentos distribuídas por meio dos programas sociais. Não seria uma iniciativa ótima? Além de receber apoio alimentar, eles poderiam ter acesso a obras brasileiras. Muitos não saberiam ler, outros não teriam interesse. Despertariam, porém, para outra proposta de acesso e incentivo à literatura.
Esta proposta é uma reformulação de outra que o senador Cristovam Buarque (PDT/DF) fez em 2009: o Projeto de Lei 5161/2009 instituía a Cesta Básica do Livro para alunos do Ensino Fundamental e Médio da rede pública que funcionaria da mesma forma que a cesta alimentar. A Comissão de Educação e Cultura rejeitou e a Mesa Diretora arquivou.
E alguém sabia que de acordo com uma Norma Jurídica de 2009, Taubaté, em São Paulo, é a "Capital Nacional da Literatura Infantil"? Roberto Alves (PTB/SP) foi o autor e eu não sei nem onde essa nossa Capital Nacional fica no mapa...
Outro projeto que está em trâmite é o de Marcelo Almeida (PMDB-PR), o 7263/2010 cria o Prêmio José Ephim Mindlin, para escolas “públicas ou privadas, de ensino fundamental ou médio, que desenvolvam atividades curriculares relevantes ligadas ao livro e à leitura”. O PL está sendo avaliado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), que tem obrigação de conferir se os PL’s não ferem a Constituição e nem outras leis anteriores a eles.
Na Câmara dos Deputados, a Comissão de Educação e Cultura é encabeçada por representantes do Nordeste: Fátima Bezerra (PT/RN) é a presidente; Lelo Coimbra (PMDB/ES) é o 1º Vice-Presidente, Artur Bruno (PT/CE), o 2º Vice-Presidente; e Alice Portugal (PCdoB/BA) ocupa a posição de 3º Vice-Presidente. O que será que esse time anda fazendo pela literatura no Nordeste? Todos os projetos, normas e indicações feitas podem ser lidas na íntegra em www.camara.gov.br. Recomendo dar uma passada de olhos por lá de vez em quando. Leitura instrutiva e eu já achei verdadeiros épicos naquelas páginas...
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Tanto para ler: Bonecas russas
Eugênia Cabral
@eugeniamcabral
Eu tenho descoberto que estes textos para a Dedo de Moças viraram um verdadeiro termômetro da minha vida. Quando eu perco o controle por um segundo, a semana passa sem ele. E quando se uniu uma viagem à correria, passaram algumas semanas sem que eu semvergonhamente desse as caras por aqui. Perdão. Eu passo batido mas não é por descaso. Retomemos. Sempre retomemos, aliás.
Ontem, minha prima se indignou quando viu uma propagada de “O Morro dos Ventos Uivantes” na revista da Avon: “O livro preferido de Bella e Edward da série Crepúsculo”. A raiva foi ver um clássico como o romance de Emily Brontë reduzido a uma indicação da série de vampirinhos adolescentes. Eu concordo em gênero, número e grau que é rebaixar a obra. Mas a Avon vender livros por aquelas revistas, eu acho ótimo. Se precisar relacionar com os vampiros da moda para fazer a Emily ser lida, estou dentro.
Nunca li “Crepúsculo” (falha séria com leituras in da atualidade) mas particularmente adoro quando estou lendo um livro que me traz informações de outro livro. Um dentro do outro nos permitindo uma degustação dos protagonistas e suas histórias. Por exemplo, terminei de ler “A Elegância do Ouriço”, de Muriel Barbery, desesperada para ler “Anna Karenina”, de Tolstói. Também de conhecer um diretor japonês cujo nome agora não me recordo mas é muito comentado na história.
“As Horas”, de Michael Cunningham já é por si um romance maravilhoso (muito bem adaptado por sinal). Os pedacinhos de Virginia Wolf que vão se soltando dele podem servir de ponte para toda sua obra, mas remetem diretamente à “Mrs. Dalloway”.
Há livros especialmente feitos para evocar outros. Em “O Leitor”, Bernhard Schlink um adolescente de 15 anos tem seu primeiro caso amoroso com uma mulher. Seu ritual de encontros envolve a leitura em voz alta de livros como “Odisséia”, de Homero, “Guerra e Paz”, de Tolstói e “A dama do cachorrinho” de outro russo, Anton Tchékhov. Tirando Odisséia que já li, todos entraram na lista de 2012 (vejam como só vai dar Tolstói...).
Às vezes, o livro nem cita o outro, mas traz tanto de seus elementos que se faz necessário ir atrás da segunda obra. José Saramago construiu “A Caverna” praticamente tricotando com Kafka. Aí fica aquela sensação de: “eu devia ler “O Castelo” para completar essa história... Aviso justo aos navegantes já que uma amiga só descobriu depois de 600 páginas: o referido texto é uma obra inacabada. Não que eu achasse que Kafka ia dar fim ao sofrimento do agrimensor. Fica a critério de quem for encarar.
“Cartas para Julieta”, de Ceil Friedman e Lise Friedman, não tem a ver com a história do filme. Realmente chegam à Verona milhares de cartas direcionadas a Julieta e um monte de voluntárias se encarregam de responder. O livro mostra algumas cartas, as voluntárias e como a cidade construiu o mito que culminou na história imortalizada por William Shakespeare: “Romeu e Julieta”. Desafio a qualquer pessoa não correr para ler, ou reler, o clássico depois de descobrir as histórias de Verona. E vale a pena.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Tanto para Ler: Dias de poeta
Eugênia Cabral
@eugeniamcabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
Poesia é uma área da literatura muito interessante. Por um lado tem uma aura de intelectualidade. "Poesia é só para gente muito culta porque é complicada de entender!" Por outro, há um sentimento generalizado que ninguém lê. "Poesia é um negócio chato porque é leeento!" Fui avisada pela internet que no dia 04 de outubro é comemorado o Dia do Poeta. Esse fingidor que hoje em dia anda raro de ser visto por aí.
Nas conversas, a impressão que tenho é que as mesmas poesias estão sempre sendo lidas. E constantemente, são os mesmos poetas. Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles... Nos últimos anos, Caio Fernando Abreu como que saltou aos olhos das pessoas e vem sendo recitado em muitas contas de Facebook e Twitter. Ainda sou do fã-clube do Manuel Bandeira: “A alma que estraga o amor”... Todos incontestáveis. Mas não se fez mais nada depois?
Atualmente, as redes sociais provocaram a volta das poesias de agenda. Lembram daquelas agendas de adolescência, nas quais são copiadas frases bonitas? Hoje, as letras de músicas copiadas são vídeos do Youtube postados no Facebook. Em vez de copiar, vocês retuita contas especializadas em colocar frases e trechos de poemas como a do @pensador.
Enquanto eu escrevia este texto, ele mostrava: “Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência” --Fernando Pessoa (outro campeão de citações).
Quantos aos nossos autores contemporâneos... Bom, eu não tenho certeza se vou saber citar quem são os poetas atuais mais conhecidos nacionalmente. Melhor nem arriscar. Conheço uns cearenses que equilibram as carreiras profissionais com a luta de escrever e conseguem, com muita dedicação, publicar os registros do seu trabalho.
O processo de reconhecimento instantâneo que criou as “celebridades da internet” ainda não me apresentou nenhum “poeta da internet”. Como me considero usuária mediana de redes sociais, acho que teria me alcançado se algum surgisse. Até conheço alguns desses autores guerreiros que publicam algo de sua produção. Mas nada que o torne “célebre e online”.
As redes sociais sociabilizaram alguns autores e frases, mas ainda não recuperaram a poesia para nosso cotidiano. Pena. Enquanto isso, vou aqui lentamente passando por um livro de poesia em homenagem aos Dias dos Poetas. Lentamente, por escolha e prazer próprio, diga-se de passagem. Não sou do tipo que lê poesia como romance não. Mas gosto e queria muito conhecer mais. Meus sentimentos sobre a área são exatamente os de Paulo Leminski (outro que vale a pena) em “Poetas Velhos”:
Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.
@eugeniamcabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
Poesia é uma área da literatura muito interessante. Por um lado tem uma aura de intelectualidade. "Poesia é só para gente muito culta porque é complicada de entender!" Por outro, há um sentimento generalizado que ninguém lê. "Poesia é um negócio chato porque é leeento!" Fui avisada pela internet que no dia 04 de outubro é comemorado o Dia do Poeta. Esse fingidor que hoje em dia anda raro de ser visto por aí.
Nas conversas, a impressão que tenho é que as mesmas poesias estão sempre sendo lidas. E constantemente, são os mesmos poetas. Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles... Nos últimos anos, Caio Fernando Abreu como que saltou aos olhos das pessoas e vem sendo recitado em muitas contas de Facebook e Twitter. Ainda sou do fã-clube do Manuel Bandeira: “A alma que estraga o amor”... Todos incontestáveis. Mas não se fez mais nada depois?
Atualmente, as redes sociais provocaram a volta das poesias de agenda. Lembram daquelas agendas de adolescência, nas quais são copiadas frases bonitas? Hoje, as letras de músicas copiadas são vídeos do Youtube postados no Facebook. Em vez de copiar, vocês retuita contas especializadas em colocar frases e trechos de poemas como a do @pensador.
Enquanto eu escrevia este texto, ele mostrava: “Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência” --Fernando Pessoa (outro campeão de citações).
Quantos aos nossos autores contemporâneos... Bom, eu não tenho certeza se vou saber citar quem são os poetas atuais mais conhecidos nacionalmente. Melhor nem arriscar. Conheço uns cearenses que equilibram as carreiras profissionais com a luta de escrever e conseguem, com muita dedicação, publicar os registros do seu trabalho.
O processo de reconhecimento instantâneo que criou as “celebridades da internet” ainda não me apresentou nenhum “poeta da internet”. Como me considero usuária mediana de redes sociais, acho que teria me alcançado se algum surgisse. Até conheço alguns desses autores guerreiros que publicam algo de sua produção. Mas nada que o torne “célebre e online”.
As redes sociais sociabilizaram alguns autores e frases, mas ainda não recuperaram a poesia para nosso cotidiano. Pena. Enquanto isso, vou aqui lentamente passando por um livro de poesia em homenagem aos Dias dos Poetas. Lentamente, por escolha e prazer próprio, diga-se de passagem. Não sou do tipo que lê poesia como romance não. Mas gosto e queria muito conhecer mais. Meus sentimentos sobre a área são exatamente os de Paulo Leminski (outro que vale a pena) em “Poetas Velhos”:
Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Tanto para ler
Histórias que continuam
Eugênia Cabral
@eugeniamcabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
Fãs do clássico “O Iluminado” entraram em festa nesta semana. O autor Stephen King anunciou segunda-feira (26/09) em seu site que está escrevendo uma continuação da história. Não leu o primeiro livro? Pule para o próximo parágrafo porque aqui vai uma parte do fim. O novo livro mostrará o menino Danny, sobrevivente do terror no Hotel Overlook, como um homem de 40 anos que trabalha num hospital e usa seus poderes para ajudar os pacientes a “mudarem de lado” e se chamará “Dr. Sleep” (Dr. Sono).
O novo livro mostra o pequeno Danny agora um adulto de 40 anos
Continuações de história queridas e vendidas como esta correm um risco enorme. Tanto é possível deixar tudo melhor como estragar o que tinha sido uma boa história. Ira Levin poderia muito bem ter ficado apenas com “O Bebê de Rosemary”, a continuação “O Filho de Rosemary” é qualquer coisa de terrível e tem um final seriamente besta. Dá raiva de ter lido o primeiro.
Por outro lado, “O Senhor dos Anéis” nada mais é que a continuação da história iniciada em “O Hobbit” por JRR Tolkien. Já pensou se ele para no primeiro livro?! No fim da trilogia final, o autor ainda faz um resumo do que foi a vida de cada um dos personagens depois da história da destruição do Anel do Poder. Do início ao fim, nós estivemos na Terra Média.
Alguns autores, principalmente de suspense, se agarram a um personagem e vão criando várias histórias com eles, como Dean Koontz, Sidney Sheldon, Dan Brown e Robin Cook. As histórias trazem a familiaridade de personagens queridos com novas situações e enredos. Tem continuações que até sobrevivem ao próprio autor. Robert Ludlum é o pai legítimo do agente Jason Bourne, mas enquanto ele escreveu apenas três livros com o personagem, o escritor Eric Van Lustbader já escreveu SETE depois da morte de Ludlum.
Para evitar que os herdeiros dela dessem uma de engraçadinhos como os de Ludlum, a britânica Agatha Christie assassinou seu personagem mais famoso, Hercule Poirot. Ela declarou que queria dar um fim digno a ele e fechar sua história. Assim garantiu aos leitores que Poirot não seria transformado em outra coisa na mão de outros autores. Não vou colocar em que livro isso acontece para não estragar a continuação de ninguém.
Há alguns personagens que já continuaram tanto e por tantas mãos que ninguém nem lembra mais qual foi aquela primeira história na qual apareceram. Faz tempo que Drácula não é só de Bram Stoker. Mary Shalley não só perdeu a guarda de Frankenstein como o nome, que era do criador, agora é como ficou conhecido o monstro criado. Faz bem mesmo Stephen King continuar suas histórias. Mas isso não vai impedir que o Hotel Overlook apareça em outros livros daqui uns anos. Afinal, a gente cria filho é para o mundo, né?
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Escrita, cotidiano e desejos presentes em “Depois do sempre”
Recados dados e recebidos. Recados que chegam depois do que sempre esteve ali. Esse é o mote do livro “Depois do sempre”, do poeta cearense Alexandre de Lima Sousa. A terceira publicação do escritor dá continuidade às ideias lançadas nas obras anteriores. Agora, entretanto, essas ideias mostram-se mais livres, despreocupadas com a rima e a forma e mais atentas ao que realmente dizem as palavras. O lançamento do livro será na próxima quinta-feira (22), na Livraria Lua Nova (Av. Treze de Maio, 2861), às 19h.
“O livro traz os recados que recebo das coisas e das situações diversas. As poesias são o resultado escrito do que ouço e sinto”, define. Em outras palavras, é a escrita o elemento que dá unidade ao todo de “Depois do sempre”. A chamada metalinguagem está presente em “dilema solucionado”, quando ele diz que “não diametralmente um mentiroso/ tão somente poeta”. Ou mesmo em “personagens”: “ao ler meu escuro decifro / as folhas em branco do livro / … me deparo com personagens que jamais teria sido”.
Com 90 poemas e dividido em cinco capítulos – novidade, esboço para um tratado, silêncios, egoísmo e depois do sempre – o livro aborda ainda o cotidiano, as memórias, os desejos e os sentimentos sobre si e sobre o mundo. “É uma reflexão sobre o que fiz e o que faço”, complementa Alexandre, falando do “egoísmo” do poeta presente na obra. Sobre egoísmo, ele entende a prevalência do desejo do poeta sobre a palavra.
Para o autor, esta é uma obra mais madura que marca a transição entre o trabalho que foi iniciado em Cadernos (2005) e continuado em Estado de sítio (2007) e o que deve vir em breve. A liberdade a que ele se refere na terceira obra deve estar ainda mais presente no próximo trabalho, previsto para o ano que vem. Com essa ideia futura, Alexandre já deixa no ar a dúvida do que virá depois do sempre.
O livro foi vencedor do Prêmio Caetano Ximenes Aragão, categoria de poesia do edital da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), de 2010. A capa é assinada pelo designer Rafael Limaverde.
O autor é também ensaísta, cronista e professor. Graduado em Filosofia, ele é professor de Literatura, História e Filosofia. Em 2004 e 2006, foi premiado nos Concursos Literários do Ideal Clube de Fortaleza. Também em 2006, foi contemplado com o prêmio Rachel de Queiroz, também concedido pela Secult. Seu segundo livro, Estado de sítio, foi selecionado no I Edital das Artes da Fundação de Cultura, Esporte e Turismo de Fortaleza (Funcet).
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