Almir Mota, escritor
Por Andreh Jonathas
A primeira edição da Caravana da Leitura e do Autor Cearense levou o escritor Almir Mota à escola João Hippólyto, no bairro Dias Macedo, dia 28 de janeiro. Antes de interagir com as cerca de 100 crianças que participaram do evento, Mota falou sobre a literatura infantil cearense, as potencialidades e o destaque em relação ao Brasil.
De origem rural, o escrito nasceu em Saboeiro, na Região dos Inhamuns cearense. Teve sua formação artística embasada no teatro. Desde os 12 anos, fez cursos de arte dramática, até se dedicar exclusivamente à literatura infantil, a partir de 1996.
Hoje, com 42 anos, Almir Mota é autor de dezesseis livros de literatura infantil, incluindo temas ligados ao folclore e às paisagens históricas do Ceará, como “O Bode Ioiô” e a “Galinha Choca de Quixadá”.
Qual o patamar de incentivo, público e privado, para produção de literatura infantil no Ceará hoje, comparando a quando você começou?
Agora, existe um pequeno inventivo. Antes, nem tinha. Quando iniciei, há doze anos, publicar literatura infantil era uma aventura, principalmente, se fosse por meios independentes. Se fosse via editorial, aqui não tinha muitas editoras. Hoje, nós temos em torno de 15 editoras no Ceará, de diversas literaturas. Isso mudou muito o quadro no Ceará. Atualmente, nós temos um mercado editorial bacana, nossa literatura já chega a outras praças.
O que falta para o autor cearense ter maior visibilidade?
É um processo gradual. Nós temos autores cearenses e temos também projetos como a Caravana da Leitura e do Autor Cearense, que trabalha a literatura na perspectiva de mostrar a linguagem de quem escreve aqui, de quem publica por aqui, de quem está em casa, de quem está mais acessível e de quem fala o “cearencês” mais próximo da meninada. Esse tipo de iniciativa vem a veicular a imagem do autor cearense em vários campos, tanto na mídia como nas escolas, que é o principal foco dos autores de literatura infantil.
Como você classifica a qualidade gráfica das produções no Ceará?
A literatura estrangeira infantil é de ótima qualidade. Primeiro, porque nós temos condições gráficas lá fora melhores. Estou chegando de viagem e lá visitei cerca de dez livrarias. O papel, a impressão, a qualidade gráfica é de dar água na boca. A gente precisa disso aqui. Para você ter uma ideia, talvez a minha próxima coleção não rode aqui, porque eu não tenho condições de rodar aqui, se for com a proposta que eu quero. Sabe aqueles livros bem duro, com boneco dentro, com material gráfico de primeira? A gente infelizmente, no Ceará, não temos condições de fazer isso. Temos aqui no Nordeste já, mas não no Ceará.
O mercado precisa se desenvolver mais...
Precisa. Nós temos boas gráficas, tem material de primeira. Uma coisa é ter material de qualidade, de ponta e outra coisa é ter técnica pra isso. A gráfica onde trabalho, a gente apresenta livros de outros lugares. A costura, a encadernação... O assunto ligado ao adulto não está só na estética, está no conteúdo. Embora a criança precise de conteúdo especial, talvez até mais do que o adulto, ela não sabe disso. Ela é atraída pela beleza. O livro tem que ser belo por si próprio.
Em termos gerais, como você avalia a produção de literatura no Ceará?
Boa, boa. Em relação ao Nordeste, nós já passamos. Ninguém publica mais literatura infantil que o Ceará. Em quantidade de publicação de títulos, o Ceará ganha de Santa Catarina, por exemplo. Na qualidade literária, também é destaque nacional. Nós temos uma qualidade gráfica boa também. O que estava falando é para projetos arrojados, diferenciados, como livros de papelão, de pano de plástico.
Qual a importância da Caravana da Leitura e do Autor Cearense para o Estado?
Vai levar literatura a lugares que, geralmente, não ia: escolas públicas. No geral, é mais difícil chegar a uma escola dessas. A caravana se antecipa e joga a gente dentro da escola, mais precisamente, em uma praça, o lugar mais popular em um bairro.
Quais são suas principais influências para escrever?
Eu gosto muito de ler os italianos. Gosto muito do Ítalo Calvino, por exemplo. Mas é claro que gosto muito da literatura brasileira. Marina Colasanti é um bom nome, sempre li. Eu aprendi a ler com “Marcelo Marmelo Martelo”, o primeiro livro da Ruth Rocha. Hoje tem 132 livros. Gosto muito da literatura brasileira e, em especial, desses autores.