Adriana Lisboa
Romance como tese
Por Cristina Carneiro
cristinacarneiro@dedodemocaseditora.com.br
@criscalina
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Não tem perigo de não ter, em entrevistas com autores literários, aquelas perguntas básicas: De onde veio a inspiração? Como é o seu processo de criação? E para a mesma pergunta, evidentemente, há milhares de respostas. Há escritor que diz ter sido tomado, no meio da noite, por um arroubo inspirador. Outros dizem que escrever é pura transpiração. E tem aqueles que dizem que são as duas coisas, arroubo inspirador e muito trabalho. O fato é que, quando lemos um romance, cogitamos – ou queremos - que ele tenha surgido de um momento epifânico ou de um sentimento qualquer. Não é comum pensarmos que o livro nasceu de uma tese de doutorado ou de uma dissertação de mestrado, ou mesmo de uma monografia de conclusão de curso, mas acontece.
Adriana Lisboa é um desses casos que escreveu romances ficcionais a partir de seus trabalhos acadêmicos. Adriana transformou tanto a dissertação de mestrado como sua tese de doutorado em romances. A dissertação de mestrado de Adriana, pela UERJ, foi a base do romance “Um beijo de colombina”. Já o doutorado rendeu o romance “Rakushisha”, editado a partir do corpo da tese “O viajante - o diário de viagem Oku no Hosomichi, de Matsuo Bashô”, também pela UERJ.
A escritora Tatiana Levy também já caminhou por essas veredas. Tatiana lançou em 2007 o livro “A Chave de Casa” (Record), que, antes de ser lançado como romance, serviu para defender seu objeto de pesquisa no doutorado em Estudos de Literatura pela UFRJ. Com “A Chave de Casa”, Tatiana ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura em 2008, na categoria autor estreante.
Mas não é só tese e dissertação que vira livro de ficção. Julián Fuks fez da sua monografia de conclusão do curso de jornalismo na USP um livro de contos e crônicas: “Histórias de literatura e cegueira” (Record, 2007). Neste livro, a partir da vida e da obra dos escritores Jorge Luis Borges, João Cabral de Melo Neto e James Joyce, Fuks constrói histórias fragmentadas de momentos possíveis da vida de cada um desses escritores.
É verdade que esses casos não são comuns. Argumentar ficcionalmente um objeto acadêmico é coisa rara. É raro, inclusive, orientador que aceite a empreitada. Mas, já nos anos 70, o escritor Esdras do Nascimento defendeu, na UFRJ, aquele que é tido como o primeiro romance-tese brasileiro, “Variante Gotemburgo”. O livro é um romance (encontrável só na Estante Virtual) sobre a construção de um romance.
Não é ficção, mas tem lá seu quê de literário
Quando esta colunista estava para terminar de escrever o que foi escrito acima, descobriu que o livro-reportagem que será lançado no próximo dia 8 de abril - “Histórias de Beco: quando a poeira assenta, entrevemos rostos, punhos e corações”, de Mayara de Araújo -tem lá sua ousadia literária, mesmo sendo um trabalho acadêmico. “Histórias de Beco”, apresentado como trabalho de conclusão de curso de jornalismo de Mayara de Araújo, foi considerado, pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, a melhor produção acadêmica de livro-reportagem do país em 2010. O livro, no entanto, não é uma simples grande reportagem, é um livro heterogêneo, que conta a história do Beco da Poeira e seus personagens pré-transferência por meio de matérias, contos e crônicas. O lançamento acontece às 19h do dia 8/4, no Museu de Artes da UFC, durante a II Semana de Jornalismo da UFC.
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