terça-feira, 5 de abril de 2011

Tanto para Ler

Cidades da Literatura


Por Eugênia Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral


Muito se fala sobre aumentar o número de leitores brasileiros, incentivar consumo de livros e valorizar a literatura. Infelizmente, muito se fala, pouco se vê. No ano passado, conheci algumas iniciativas em outros países que me mostraram que é bem simples, e nada caro, trabalhar a literatura para a população local. Vou comentar minhas duas preferidas.
A primeira foi em Lisboa, Portugal. A vida cultural da cidade em si já tem um número considerável de iniciativas, como o festival de apresentações musicais gratuitas durante o verão em parques e praças. O parque perto de onde morei passava filmes à noite num telão ao ar livre. Você levava uma toalha para sentar na grama ou sentava nas cadeiras que eles montavam e curtia o verão.
Algum órgão de poder público que não lembro aproveitou o aniversário do Fernando Pessoa e montou quiosques na cidade com áudio das poesias. Você deixava seu documento de identidade no quiosque e retirava o gravador com fones e um mapa. A partir daí, tinha o resto do dia para ouvir as poesias do Fernando Pessoa sobre Lisboa nos próprios locais da cidade. Tanto valorizava a obra do poeta como recuperava muito das áreas de Lisboa que foram tão importantes para a literatura portuguesa.
O Museu de James Joyce, em Dublin, Irlanda, também tem esse serviço, só que pago. Você aluga um gravador com fone e o mapa da cidade e pode reservar um dia da sua viagem para fazer o percurso de protagonista do livro “Ulisses”. Em Dublin também está a segunda iniciativa que me apaixonou.
O projeto chama-se “One City, One Book” (http://www.dublinonecityonebook.ie/). Uma cidade, um livro. O conceito é tão simples como o nome. Durante um mês, especificamente abril, é escolhido um livro para ser lido por toda a cidade. Como? O Serviço de Bibliotecas Públicas do Conselho da Cidade de Dublin seleciona uma obra. Este é o sexto ano e desta vez o livro escolhido foi “The Ghost Light”, de Joseph O’Connor. A única prerrogativa para a seleção é que tem que ser de um autor nacional.
Daí em diante, todas as bibliotecas públicas da cidade preparam eventos sobre o livro. As escolas públicas e particulares fazem atividades com este tema. Os jornais publicam matérias e resenhas sobre a obra e as livrarias fazem vitrine especial para ela. Viu? Nem foi caro. As instituições só direcionaram atividades que elas já fariam para convergir com a obra. Como é anunciado com antecedência, algumas companhias de teatro já preparam peças sobre a obra para estrear em abril. E os canais de televisão fazem programas e cobrem tudo.
Uma cidade inteira lendo e discutindo apenas um livro. Não por acaso Dublin foi a quarta cidade a receber da Unesco o título de “Cidade da Literatura”. Edinburgo (Escócia) foi a primeira a ser escolhida, seguida por Melbourne (Austrália) e Iowa (Estados Unidos). Alguns dos critérios do título são quantidade e qualidade de projetos de incentivo a literatura, ambiente que propicie a leitura, eventos literários e envolvimento da mídia e da população no assunto. E aí? Já conseguiu pensar em alguma cidade brasileira que se candidate?

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