terça-feira, 6 de setembro de 2011

Tanto para ler

Baleias na prateleira
Eugênia Cabral
@eugeniamcabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora

Eu elegi, nos últimos dias, como a sensação mais angustiante aquela de tentar terminar algo e não conseguir. Você vai botando vários pontos finais, mas terminar mesmo? Dizer que não vai mais precisar tocar naquilo? Nada. Ainda falta isso e aquilo. Claro que isso veio de uma situação muito específica na minha vida, chamada dissertação. Mas eu tenho uma coleção de livros na minha estante com o marcador lá no meio que não somem de modo algum.


Durante o último mês, por exemplo, comecei a ler Memorial de Maria Moura, da Rachel de Queiróz. Amei o livro, mas minha leitura devoradora teve que ser parada tantas vezes para retomar a dissertação que a Maria Moura agora está largada no criado-mudo. Lembro nem em que ponto do sertão a deixei.

Outro que não termino por nada no mundo é “Grandes Sertões: Veredas”, do Guimarães Rosa. Lia lentamente e parei. Seis meses depois continuei de onde estava, e parei. Um ano depois, decidi recomeçar (agora vai!) e parei um pouco depois do ponto que estava na primeira leitura. O pior? O livro é ótimo. Eu só não consigo terminar! Dois anos depois, ele está ali, do lado da Maria Moura.


Às vezes é fácil entender o motivo da enrolação. Meu esposo sofreu para ler “Cem Anos de Solidão”, do Gabriel García Márquez, até comprar uma edição com a árvore genealógica da família na primeira página. Acabou rapidinho. O problema era que ele se confundia com tantos irmãos, filhos e primos.

Um autor que me detém por conta dos personagens é Fiódor Dostoiévsky. Eu tenho DOIS inacabados dele. Um é “Os Irmãos Karamázov” simplesmente porque eu não consigo nunca saber que irmão é qual e faz o quê. Dmitri Fiodorovitch Karamázov, Ivan Fiodorovitch Karamázov e Aliêksei Fiodorovitch Karamázov são os irmãos que normalmente são citados assim, com os três nomes (bastava o primeiro, não?).

O segundo inacabado dele é “Memorial da Casa dos Mortos”, pelo mesmo motivo de confusão entre os personagens (todos homens numa prisão). Eu devo ter algum problema mental muito específico que me faz trocar tudo sobre os personagens do Dostoiévsky.

Esses quatro livros têm andado me encarando e provocando a citada angústia do primeiro parágrafo. “Você não me terminou, não me terminou, não me terminou...”. Viraram minhas Moby Dicks, em uma metáfora à história de Melville (esse eu terminei). E agora, que eu acho que a dissertação acabou, lá vou eu armar meu barco e partir para a caçada dos intermináveis. Quem sabe 2011 acaba com essas espécies extintas da pilha “Livros para ler”.

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