terça-feira, 1 de novembro de 2011

Tanto para ler: Bonecas russas


 
Eugênia Cabral
@eugeniamcabral


Eu tenho descoberto que estes textos para a Dedo de Moças viraram um verdadeiro termômetro da minha vida. Quando eu perco o controle por um segundo, a semana passa sem ele. E quando se uniu uma viagem à correria, passaram algumas semanas sem que eu semvergonhamente desse as caras por aqui. Perdão. Eu passo batido mas não é por descaso. Retomemos. Sempre retomemos, aliás.

Ontem, minha prima se indignou quando viu uma propagada de “O Morro dos Ventos Uivantes” na revista da Avon: “O livro preferido de Bella e Edward da série Crepúsculo”. A raiva foi ver um clássico como o romance de Emily Brontë reduzido a uma indicação da série de vampirinhos adolescentes. Eu concordo em gênero, número e grau que é rebaixar a obra. Mas a Avon vender livros por aquelas revistas, eu acho ótimo. Se precisar relacionar com os vampiros da moda para fazer a Emily ser lida, estou dentro.

Nunca li “Crepúsculo” (falha séria com leituras in da atualidade) mas particularmente adoro quando estou lendo um livro que me traz informações de outro livro. Um dentro do outro nos permitindo uma degustação dos protagonistas e suas histórias. Por exemplo, terminei de ler “A Elegância do Ouriço”, de Muriel Barbery, desesperada para ler “Anna Karenina”, de Tolstói. Também de conhecer um diretor japonês cujo nome agora não me recordo mas é muito comentado na história.


“As Horas”, de Michael Cunningham já é por si um romance maravilhoso (muito bem adaptado por sinal). Os pedacinhos de Virginia Wolf que vão se soltando dele podem servir de ponte para toda sua obra, mas remetem diretamente à “Mrs. Dalloway”.

Há livros especialmente feitos para evocar outros. Em “O Leitor”, Bernhard Schlink um adolescente de 15 anos tem seu primeiro caso amoroso com uma mulher. Seu ritual de encontros envolve a leitura em voz alta de livros como “Odisséia”, de Homero, “Guerra e Paz”, de Tolstói e “A dama do cachorrinho” de outro russo, Anton Tchékhov. Tirando Odisséia que já li, todos entraram na lista de 2012 (vejam como só vai dar Tolstói...).

Às vezes, o livro nem cita o outro, mas traz tanto de seus elementos que se faz necessário ir atrás da segunda obra. José Saramago construiu “A Caverna” praticamente tricotando com Kafka. Aí fica aquela sensação de: “eu devia ler “O Castelo” para completar essa história... Aviso justo aos navegantes já que uma amiga só descobriu depois de 600 páginas: o referido texto é uma obra inacabada. Não que eu achasse que Kafka ia dar fim ao sofrimento do agrimensor. Fica a critério de quem for encarar.

“Cartas para Julieta”, de Ceil Friedman e Lise Friedman, não tem a ver com a história do filme. Realmente chegam à Verona milhares de cartas direcionadas a Julieta e um monte de voluntárias se encarregam de responder. O livro mostra algumas cartas, as voluntárias e como a cidade construiu o mito que culminou na história imortalizada por William Shakespeare: “Romeu e Julieta”. Desafio a qualquer pessoa não correr para ler, ou reler, o clássico depois de descobrir as histórias de Verona. E vale a pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário