Livros de Carnaval
Por Cristina Carneiro
cristinacarneiro@dedodemocaseditora.com.br
@criscalina
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O Carnaval como cenário na literatura brasileira parece ser inversamente proporcional à mobilização causada pela festa. Desde que o Carnaval é Carnaval, as histórias carnavalescas de encontros, desencontros, brincadeiras, amores e desamores rendem uma vasta produção musical e cinematográfica (pelo menos já rendeu, nos tempos das chanchadas da Atlântida). Mas, na ficção literária, o Carnaval parece não inspirar muito.
Esforcei-me, mas não recordei mais de um Carnaval entre os livros que li. Lembrei apenas de uma rápida passagem no livro “O Amanuense Belmiro”, de Cyro dos Anjos. “Neste carnaval de 1935, hoje começado, mais do que nunca senti de modo tão vivo a impossibilidade de me fundir na massa, de seguir, como célula passiva, seu movimento de translação, de receber e transmitir essas forças misteriosas que nela atuam, comunicando-se de indivíduo para indivíduo e resultando, afinal, numa força uniforme, esmagadora, de onda ou ciclone. (...)”
Buscando esses carnavais literários, descobri que um ou outro livro infanto-juvenil, como “Arlequim”, de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, introduzem as crianças no universo do Carnaval. Na literatura adulta, há apenas uma quantidade ínfima, bem dizer, diante do rebuliço que a festa causa todos os anos no Brasil.
Um carnaval ou outro
Um romance que tem o carnaval como cenário, mas que não é tão original assim, é “Sonho de uma Noite de Verão”, de Adriana Falcão. Adriana bebe da peça shakespeariana, de mesmo nome, para recontar a história em pleno carnaval baiano. Falando em baiano, Jorge Amado até escreveu “O País do Carnaval”, mas o livro não tem o carnaval como cenário.
Dos livros que encontrei, o que me pareceu o mais carnavalesco foi “Carnaval”, de João Gabriel de Lima (Objetiva, 2006), que tem como cenário o Carnaval carioca. “Carnaval” conta a história de Pedro, um paulista entediado que decide passar o Carnaval no Rio em busca da amante. No Rio, Pedro se integra aos blocos carnavalescos da Zona Sul e descobre personagens da Lapa. Comentários sugerem que o livro é um elogio ao Rio.
Com respaldo científico é outra história
Ao contrário da literatura ficcional, o Carnaval é assunto dissecado na literatura acadêmica. Centenas de livros abordam o carnaval sociologicamente, antropologicamente e historicamente. Há também muitos livros fotográficos que registram os carnavais. De duas uma, ou as duas: ou a efemeridade do Carnaval não inspira criação literária ou as histórias carnavalescas são incontáveis (não no sentido numérico, mas no de não se dever relatar, para o bem da moral e dos costumes).
Então, que neste carnaval todos vivam histórias inenarráveis!
nossa...que interessante,muito bacana.
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