terça-feira, 29 de março de 2011

Tanto para Ler





Uma questão de sorte ou cuidado?


Por Eugênia Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral

 A atriz Jennifer Garner (da série “Alias” e do filme “Elektra” (2005)) foi escalada para viver Miss Marple no cinema. Nada contra a atriz, eu adorava a série, mas isso significa que a sexagenária personagem de Agatha Christie que desvenda crimes através de seu profundo conhecimento da natureza humana será uma senhora Garner jovem, bonitona que eu tenho certeza que vai correr, bater e saltar. Tadinha da Agatha, não deu sorte.
E olha que ela era, na minha opinião, uma das autoras de sorte. Em geral, suas adaptações geram ótimos filmes. O ator britânico David Suchet fez uma série de filmes para televisão como o detetive belga Hercules Poirot muito boa. E na última versão do cinema de “Assassinato no Expresso Oriente” (2001), Alfred Molina interpretava o detetive. Alguns escritores, parecem ter sido feitos para virar roteiro. Ou será que não é sorte?
Por exemplo, você conhece Michael Crichton? Eu aposto que sim. Porque ele é o autor dos livros “Parque dos Dinossauros” (sabe aquele filme do Spielberg?), “Congo” e “O Décimo Terceiro Homem”. Ah, conhece, né? Pois ele era tão envolvido com o mundo do cinema e da TV que foi também um dos criadores da série “ER” (Plantão Médico), que teve (salvo engano) 11 temporadas.  Autores como ele arregaçam as mangas e não deixam margem para erro. Crichton participava ativamente na produção e nos roteiros. JK Rowling selecionou pessoalmente o ator que seria Harry Potter no cinema e aprovou todas as mudanças necessárias. Então é cuidado? Mas e filmes como “Ensaio sobre a Cegueira” (2008) que José Saramago deixou completamente a cargo do diretor e não interferiu em nada? Deve então ter algo a ver com os astros.
Nem quem costuma ser exemplo de excelentes adaptações como Stephen King está salvo. Das suas obras, originaram clássicos como “O Iluminado”, “Cemitério Maldito” e “À Espera de um Milagre”.  O livro de contos “Quatro Estações” (2001) rendeu não apenas um, mas três filmes: “A primavera eterna” virou o maravilhoso “Um sonho de liberdade” (1994), “Verão da corrupção” o aterrador “O aprendiz” (1998) e “O Outono da Inocência” se transformou no clássico filme de juventude dos anos 80: “Conta comigo” (1986).  Você pensaria que ele estaria salvo de fracassos. Até assistir ao “O Apanhador de Sonhos” (2003).
Por outro lado, você tem um autor como Dean Koontz com ótimos livros que não consegue encontrar um roteirista de mão cheia. As adaptações dele são todas sofríveis. Já viu “Fantasmas” (1998)? Não se preocupe, ninguém mais viu também.
Quando os astros se alinham, acontece um negócio como no filme “O Colecionador de Ossos” (1999). O casal recorrente em várias de suas obras estreou no livro com mesmo nome do filme: Lincoln Rhyme e Amelia Sachs. Eles sofreram duas mudanças na adaptação. Rhyme, que era um detetive branco, virou ninguém menos que Denzel Washington. E Deaver pediu que o sobrenome de Amelia passasse de Sachs (pronunciado ‘sex’) para Donaghy quando soube que Angelina Jolie havia sido escalada para fazê-la. O rapaz evitou as piadas e ganhou um sucesso de bilheterias que foi a primeira obra a tratar do universo da perícia no combate ao crime no cimena. Moda que inspirou uma ruma de filmes e séries como o sucesso da televisão “CSI” (já na nona temporada). Esse deu sorte! Mas tadinha da Agatha Christie...

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