terça-feira, 23 de agosto de 2011

Tanto para ler

Leia e deixe ler 2



Eugênia Cabral
eugeniacabral@dedodemocaseditora.com.br
@eugeniamcabral

Voltando ao tema iniciado duas semanas atrás. Continuo pensando sobre os preconceitos literários. E falemos de Paulo Coelho. Sobre este autor, o que mais me espanta é que motivos levaram ao autor brasileiro mais vendido no mundo ser tão mal considerado pelos seus compatriotas. Carrego várias teorias.

A primeira vem do fato de Paulo Coelho ter surgido na mídia brasileira se vendendo como tudo, menos escritor. Era um “mago”. Que nos anos 80 fazia sentido e tinha uma fatia de mercado considerável. Mas com o tempo começou a ficar meio sem motivo de ser e um tanto quanto patético. Tanto que o próprio Coelho parou de falar sobre este assunto completamente. Levar a sério os livros de um mago é uma história difícil.

O segundo motivo é que ele uniu seu próprio nome com a já citada e mal afamada autoajuda. “Diário de um mago” foi um livro que eu comecei a ler e não tive a menor condição. Parei na hora que o livro me mandava imaginar que eu era uma árvore e fazer o movimento de crescer. Vou poupar quem me lê dos comentários que eu faria.

Então, a união dos poderes desses dois fatos fez com que Paulo Coelho se tornasse o mais execrado dos escritores brasileiros. Sua entrada na Academia Brasileira de Letras foi em geral ridicularizada. O que acho um desrespeito. Se não gosta da obra dele, esculhambe com ela, não precisa xingar o escritor.

Pelas minhas idas nessa área, além do “Diário” também não consegui ler o livro dele mais famosos de todos, “O Alquimista”. Mas li “Brida” e gostei muito. É a história de uma mulher que resolve virar wicana (bruxa) e vai entrando em contato com vidas passadas. Eu adoro o gênero fantasia, como “Senhor dos Anéis” e afins. Essa foi para mim uma história no clima “As brumas de Avalon”, da inglesa Marion Zimmer Bradley (que apesar de só escrever sobre  bruxas e a ilha mística de Avalon foi muito querida pelos britânicos).

“As Valquírias” foi outro que terminei. Achei cansativo e dei uma nota seis. Por fim, li “Veronika decide morrer”, que virou um filme com Sarah Michelle Gellar no papel da Veronika (a Buffy da série de TV para quem não lembrou). Foi dos três o que mais gostei. Em alguns momentos resvala no clichê, mas é uma história bem contada e interessante. Veronika resolve se matar porque tem uma vida vazia e sem sentido. Quando é internada em um hospital psiquiátrico (obrigatório para quem tenta suicídio em alguns países), ela descobre que tem os dias contatos e precisa lidar com isso.

Não li, mas um amigo leu e adorou “O Demônio e a Senhorita Prym”. Este mostra o que acontece quando o demônio oferece dez barras de ouro para uma cidade se alguém cometer um assassinato. Stephen King trabalhou com tema parecido em “A Tempestade do Século”, só que batendo mais forte no terror.

Bom, entre bons e maus livros do Paulo Coelho, acho que entendo muito mais alguém dizer “não gosto do gênero ficção”, ou “não gosto de fantasia”, que dizer “não suporto Paulo Coelho”. A não ser que você esteja falando daqueles primeiros livros do mago de 1980, não consegui achar nenhuma característica tão dele que a gente consiga instituir o gênero literário “Paulo Coelho”. Deixemos ler então nosso brasileiro mais famoso na literatura mundial. E, se você deixar mesmo de preconceito, quem sabe até se orgulha... 

Um comentário:

  1. Geninha,

    Concordo contigo ó, em todos os pontos. Li uns 5 livros dele quando ainda estava aprendendo a gostar de ler, entre eles "o diário de um mago", "o alquimista", "brida", "nas margens do rio piedra, sentei e chorei", mas não consegui ler outros também, como o "monte cinco".

    Fui conhecendo outros autores, outros estilos, outros mundos e fui deixando de lado. Até que resolvi ler o "Onze minutos", de 2003, e me surpreendi. Nada de bruxaria, magia nem viagens psicodélicas, conta a história de uma menina brasileira que provou desde cedo o amargo da decepção amorosa e que fechou seu coração ao amor. Aliciada pela promessa de uma vida melhor, parte para a Europa em busca de uma nova vida. Torna-se prostituta, explora e esforça-se por explicar o inexplicável daquela vida. Recupera ainda a abertura para o amor ao lado de um pintor que conhece num bar e se revela um cliente especial da boîte onde trabalhava. Se não me engano, ia virar filme com Alice Braga.

    Um livro que explora até onde o ser humano pode chegar por causa de um desejo e o quanto que se dispõe para viver todas as aventuras que a vida nos impõe. Gostei muito. Foi o último e que desfez um pouco o pré-conceito que eu mesma havia absorvido por esse tsunami que o senso comum causou.

    É isso, aproveito para dar parabéns pela coluna, sempre que posso dou uma passada pra conferir. ;)

    PS: foi mal meu povo, o comentário virou quase um próprio livro! hehe

    ResponderExcluir